Mudanças recentes nas sociedades modernas introduziram ou reforçaram dicotomias e dualismos que são fontes de potenciais conflitos: a globalização e os novos localismos, a sociedade de consumo perante a sustentabilidade ambiental e sensibilidade de muitos recursos, a crescente mobilidade geográfica e o estatismo dos limites administrativos tradicionais, as grandes áreas urbanas e as identidades residenciais, a lógica do mercado e a intervenção pública etc.

Os novos modos de produzir e de proceder influenciam as relações entre os sectores básicos da sociedade, o público e o privado, exigindo ao primeiro, mais eficácia, mais transparência na sua actuação e mais rigor nos seus investimentos. As tendências, neste momento, vão no sentido do partenariado e da contratualização, de forma a termos "menos Estado mas melhor Estado", e apelam a um maior empenhamento da sociedade civil.

A vontade política de solidariedade perante a situação de crise em que se encontram os espaços de vida e do quotidiano, que se manifesta em disfunções e tensões que fragmentam a sociedade, leva a agir na base dos territórios, numa abordagem multidimensional, integrada e, cada vez mais, assente em opções estratégicas que têm como prioridade os principios da sustentabilidade ambiental, económica, social e cultural e a coesão socioterritorial.

Com este número da GeoINova não esgotamos uma temática tão vasta, sempre actual e pertinente. A teoria e a história do ordenamento são os pilares básicos para entendermos a evolução e as diferenciações da cultura da civilização; as práticas levam-nos aos meandros da tomada de decisão e aos "buracos negros" que ainda marcam muitos dos processos, entre a concepção da primeira ideia ou projecto até à materialização, ao acto realizado.

Sabemos que fica mais por dizer do que o que é dito, mas julgamos dar um contributo importante para a reflexão sobre matérias que passam pelos princípios elementares da organização/ reorganização territorial das sociedades modernas, pelo estar atento às tendências em curso, pela capacidade de apresentar e desenvolver projectos mobilizadores de novas dinâmicas sociais e territoriais, pela atitude pró-activa, pela capacidade de imaginar cenários, possíveis ou realizáveis, dando campo, de alguma maneira, ao imaginário, às utopias sociais.

A Geografia é este pensar o território, recentrando-o nos elementos que o estruturam de forma mais dominante em cada momento histórico, sejam eles de natureza mais física ou mais social, e o agir sobre ele, como cidadão, profissional,nomeadamente do Ordenamento e Planeamento do Território, ou político.