O fenómeno da migração assume características diferentes na actualidade, quanto à intensidade, grau de internacionalização, ritmo de aceleração, segmentação do fenómeno e representatividade do sexo feminino. Em 1965, 75 milhões eram migrantes internacionais (residindo mais de um ano no estrangeiro); em 2000 seriam 150 milhões (35 nos EUA; 13,5 na Rússia e 19 na União Europeia).
A Geografia das migrações tem fluxos invertidos, assente em binómios migratórios e áreas de atracção muito diferentes, sendo agora mais intensos nos países mais desenvolvidos e não nos menos desenvolvidos, como outrora.. A migração é entendida umas vezes como causa da globalização e outras vezes como consequência da interconexão mundial ou mundialização.
É uma temática transversal que cruza, nomeadamente, a demografia, a sociologia, a antropologia, a geografia, a economia, o direito, a História, as Relações Internacionais, etc..
A pertinência desta temática manifesta-se na multiplicidade de estudos recentes e num elevado número de livros e de revistas que lhe são consagrados.A literatura recente transmite novos e importantes desenvolvimentos teóricos e metodológicos que permitem o uso de terminologia diversificada com elementos novos (como binómio migratório, imigração inesperada) numa matriz de base antiga que conhece segmentações importantes, intensidades diferenciadas dos fluxos e a inversão destes (países de emigração tornam-se países de imigração). Depois de uma época de utilização sistemática dos métodos quantitativos, cada vez mais se recorre aos qualitativos, para compreender e interpretar as condições específicas que produzem este novo movimento, se é de facto diferente dos anteriores, se mantém ou modifica os padrões da migração interna, etc..
Os estudos destacam a evolução do fenómeno (em Portugal: 1º. Cabo-verdianos, muito concentrados na área de Lisboa e nos sectores da construção civil e trabalhos domésticos; depois os brasileiros, atingindo em pouco tempo quantitativos elevados em determinadas áreas e/ou sectores da economia (dentistas, hotelaria, comunicações, reprodução de material gráfico, marketing); mais recentemente os naturais dos países de leste, com uma boa aceitação no mercado de trabalho e se dispersam por todo o território português e pelos vários sectores económicos). As monografias debruçam-se também sobre a lógica dos movimentos (expressão, distribuição espacial, características socioculturais, formas de integração na sociedade acolhedora, irregularidade, singularidades femininas, reagrupamento familiar, concentrações e usos do espaço urbano, exclusão/integração), multiculturalismo (trajectórias e diferenças culturais, tempos de permanência, grupos mais abertos ou menos abertos, etc.), movimentos de cooperação e associação gerados, nomeadamente ONG’s, alterações legislativas (laborais entre outras) e orientações do Estado Providência, assessorias jurídicas e de apoio social, organizações da sociedade civil acolhedora e dos próprios imigrantes, com cariz social, religioso, etc.
A GeoINova número 8 pretende ser um contributo para a reflexão sobre esta matéria, vasta e complexa, que muda a Geografia dos espaços, as configurações territoriais e as relações culturais intra e intercomunidades, aculturando as áreas de saída mas também as de acolhimento, envolvendo numa mesma lógica de mudança e movimento os países mais desenvolvidos e os que partilham menos os níveis de conforto e riqueza que as sociedades dominantes identificam com a modernidade.
A Geografia centra a atenção nas configurações espaciais e nas transformações que nelas se operam, por isso, as migrações, na sua dupla vertente de imigração e emigração, constituem um campo importante de investigação, que em determinados momentos reaflora com novos contornos, novas metodologias e novas formas de entender o fenómeno à escala mundial, nacional ou local. Períodos de grande mobilidade podem traduzir a expansão das economias ou, pelo contrário, fortes crises políticas, económicas e sociais que forçam a população a deslocar-se procurando a sobrevivência ou a melhoria da qualidade de vida. As semelhanças no ritmo, na intensidade e na direcção podem não significar identidade de problemas. As causas e os efeitos têm de ser entendidos num contexto mais vasto mas procurando, em cada caso, os motivos concretos que explicam o movimento.
Procuramos com este número da
GeoINova trazer elementos de reflexão sobre esta temática, a migração, olhada do ponto de vista da Geografia e das suas preocupações sobre o desenvolvimento dos territórios.
Maria Júlia FERREIRA